domingo, 30 de maio de 2010

Neuro Anatomia

Link para baixar o arquivo da aula de Neurofisiologia.

http://www.4shared.com/document/CLcGyeNb/NeuroAntomia0001.html

Namastê!

Roseli

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Aula 4 de Anatomia - Prof. Alcina

Namastê!!

Os arquivos da Aula 4 de Anatomia para download já estão no link abaixo:

http://www.4shared.com/dir/HLnQDv0w/ANATOMIA_AULA_4.html


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(Obs. O arquivo "ARTICULAÇÕES SINOVIAIS.ppt" nao foi postado pois seu tamanho ultrapassou o limite (310 Mb)

Alguém tem alguma idéia?

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Bjos a todos!!

Jay!

Josie

domingo, 16 de maio de 2010

Educação Integral- Texto para leitura

NOTA INTRODUTÓRIA

EDUCAÇÃO é uma série progressiva de artigos, uma das poucas coisas que a Mãe formulou escrevendo. Neles expõe e clareia, numa linguagem simples, aspectos fundamentais da educação, em toda sua amplitude e profundidade, pondo cada um deles em correspondência imediata a dimensões e realidades constituintes do ser humano. Os artigos se originam de uma consciência escrupulosa, de um poder incomum de percepção e apreensão, sempre avançando até o cerne de cada problema e mostrando-o em sua essência, elucidando ao mesmo tempo detalhes, até sutis minúcias, e, no entanto, jamais perdendo a visão da unidade, do todo; e onde aponta deficiências, fraquezas, deformações, não se demora na franqueza detectora: logo dá o valor real, a figura original, a verdade da coisa em questão, ajudando a encontrar a resposta, a confiança que protege, a energia para ordem e construção, e tudo respira e irradia a certeza inabalável de que é para a Luz, a Plenitude, a União e a Verdade, que o homem, que nós, com o mais autêntico direito e dever, estamos caminhando.

A Mãe escreveu pouco. A maior parte de seu tempo era tomado pelo viver, pelo dar, pelo ser. Isto em todos os sentidos, abarcando e realizando em sua vida tremendamente complexa os mais diferentes graus e níveis, estendendo-se do físico-instintivo até o espiritual-transcendental, incluindo e mesmo pondo em destaque o plano humano-intelectual. Durante muitas décadas – quase meio século - orientou e liderou a comunidade de Sri Aurobindo Ashram, assumindo todo tipo de problema: alimentação de bebês, exercícios físicos para idosos, encenação de peças de teatro, ensino de eletrônica, simbologia das cores, construção de casas, compra de máquinas, cultivo de verduras, planejamento urbanístico, a doutrina budista, perguntas sobre a origem da alma, o sentido da morte, a evolução do mundo, higiene do corpo, cozinha sadia, poesia, jardinagem, dança, tecelagem, fabricação de móveis e perfumes, técnicas para absorção da energia universal, contos para crianças, etc., etc.

Pode-se dizer que provavelmente não houve assunto da vida humana que não tivesse chegado até a Mãe, solicitando participação, ajuda, orientação, realização. E ela, com base em uma grande humanidade e humildade, e sustentada em seu viver a guiada por sua exclusiva entrega e incondicional obediência a poderes de consciência e amor supra-humanos, supramentais, divinos; respondeu a tudo, e uniu e fez crescer tudo. É esta força, esta consciência, este amor, este poder de união que nestes artigos se expressam e se colocam com grande simplicidade diante de nós. E a nós, diante disso, cabe uma só atitude: receber e agradecer.


REFLEXÃO PRELIMINAR
Há poucos meses conversei com estudantes de dança sobre a seguinte anotação de Franz Kafka: Pode-se perfeitamente admitir que a maravilha da vida, em toda sua abundância, esteja à disposição de cada um e sempre, porém oculta, na profundidade, invisível, bem longe. Mas ela existe lá, sem inimizade, sem estar surda, sem resistência. Chamando-a pelo nome certo, ela então virá.2 Perguntei a cada um o que para ele significava: a maravilha da vida. E logo a primeira resposta, de uma menina, foi: A maravilha da vida é poder ter um objetivo - não qualquer um, não qualquer coisinha, mas algo realmente válido, algo maior - e poder lutar por esse objetivo, lutar para alcançá-lo. E uma outra estudante disse: É a própria vida, quer dizer, a maravilha da vida é poder viver, ter esta existência; e perguntada se podia dizer algo mais, ela, colocando as mãos no peito, acrescentou: é eu sentir a chama acesa em mim, em minha vida, a chama que me faz ver o bom, que me faz confiar, ir adiante.

Logo a primeira resposta é como um intuitivo eco precedendo as palavras da Mãe que abrem este livro: Uma vida sem objetivo é uma vida sem alegria. Tenham todos um objetivo. Mas não se esqueçam que da qualidade de seu objetivo vai depender a qualidade de sua vida... Estas palavras são para nós de real valor - afirmam-nos em nossa direção.

Sempre sentimos que o que devemos ao ser em desenvolvimento não é apenas dar liberdade e, em acréscimo (ou em proporção igual ou até maior, como é ainda muito o caso), fornecer um panorama e uma explicação de mundo convencionados, e possibilitar ao indivíduo ainda, eventualmente – como uma ajuda para a formação da personalidade – oportunidades e meios para externamente experimentar e pesquisar, e desta maneira conhecer, denominar um certo número de componentes de seu ser e identificar-se com eles. Achamos que educação seja mais.

Achamos que a tarefa colocada para o educando pela atual educação – a tarefa de dever realizar, ao lado do livre crescimento subjetivo, uma formação-de-si e um conhecimento do mundo no nível da consciência coletiva comum - seja em si contraditório e, antes de tudo, insuficiente, por não atingir o ser em sua particularidade nem tampouco em sua totalidade; é necessário que ele busque e defina como um eixo para seu existir e evoluir, um sentido, um objetivo que não seja uma submissão a ideais-padrão universais, nem uma simples adaptação às perspectivas de vida estabelecidas e propagadas pela presente sociedade, e nem um fruto de solitárias e soltas imaginações, mas um objetivo fundado no que há de mais claro, mais genuíno, mais real na pessoa. E feito isto, o crescer não termina aqui, ele se estende para adiante: o indivíduo - ultrapassando o procurar e definir – deve começar a viver o objetivo escolhido.

Para isto é indispensével que haja um conhecimento de si o suficiente fundo, corajoso e abrangedor para poder exceder a concentração na realidade subjetiva individual levando à compreensão e visão de que a existência do homem não tem fim em sua própria pessoa e esfera particular: rompendo – perceptível ou imperceptivelmente - a todo momento esta esfera e seu ambiente imediato, ela se eterna e se irradia para dentro de âmbitos cada vez mais extensos, alcançando e influenciando dimensões e planos que a consciência externa não registra. Por outro lado é essencial que despertemos para o conhecimento de que o núcleo e a raiz de nossos poderes estão em nós mesmos.

Não em nossas capacidades físico-vitais ou mental-racionais (estas têm fundamentalmente função instrumental), mas dentro de nós, na região das vivências não-exteriores, em camadas ocultas e ainda ignoradas ou em parte mesmo rejeitadas por nós. E no entanto é desta interioridade que nos vem o saber do que é puro, do que é sincero, e o que deve ser feito. Sem que tenhamos consciência direta disso, abarcamos dentro de nós uma infinidade – e somos capazes de tornar esta grandeza uma intensidade de vida concreta, um movimento palpável existencial: uma real força, um fato, um crescimento emanando-se para dentro do mundo.

Educar, podemos dizer, significa ajudar a acordar, ajudar a encontrar no próprio ser o ímpeto, a saudade, a vontade de movimentar-se e buscar e descobrir, de crescer, de progredir. E educar significa também aprender a lutar, aprender a intensificar a existência e a cumpri-la com decisão e consciência. Educar, basicamente, é ajudar a assumir a vida; é levar o ser a procurar e a aspirar à verdade, a sentir e chamar a luz e a força encobertas nele mesmo; fazê-lo perceber a grande possibilidade que a vida é, o que com ela recebemos, e aprender, conscientemente, a querê-la, vivê-la, dá-la.

Há duas só regiões onde procurar, e assim se coloca no princípio do caminho de busca a necessidade de uma primeira escolha, uma alternativa: posso procurar fora de mim, ou, em mim. Será que fora de mim - nas coisas e pessoas e acontecimentos, no mundo que integro e que me cinge - eu acho o que ainda não sinto e sei como meu, ainda não percebo como real em mim? De fato, é fora de mim que há mil movimentos, valores, sugestões e informações, forças e elementos, complementares e contraditórios, e especialmente enquanto pequeno eu vivo do receber: estou numa dependência praticamente absoluta daquilo que compõe meu imediato redor - é de lá, é do fora que vem o que me alimenta vem o que me abraça, o que me penetra, me constrói e deforma, assusta e alegra e, através das múltiplas experiências, me faz crescer. Mas existe - mesmo nesta dependência tão inteira - algo dentro de mim que atua por si, algo profundamente meu, algo em meu interior que, de início, me caracteriza e cunha, que faz minhas reações e respostas e também minhas necessidades e exigências serem particulares, típicas, distintas, individuais.

E, à medida que vou crescendo, aquilo que há de mau próprio em mim, aquilo que me destina a ser um eu introcável, uma pessoa singular e um instrumento executor de uma determinação e missão únicas apronta-se cada vez mais para se expressar e manifestar-se e conduzir minha vida; e ao mesmo tempo recebo um número cada vez maior de influências de fora, influências cada vez mau diversas e mais absorventes, correspondendo a minha crescente necessidade de expansão e de alimento percepção existenciais.

O modo em que as coisas de fora se colocam é forte e quase inevitável, é antes uma invasão e imposição do que uma aproximação, e são raras as vezes em que se estabelece uma real concordância mútua ou uma vibração idêntica entre mim e aquilo que vem, e menos freqüentemente ainda existe a possibilidade de livre escolha; o que cresce dentro de mim, por sua vez, é tão novo, tão fresco, tão tenro e – em contrário às coisas de fora – ainda imensamente mutável e assim pouco palpável tão pouco direto que um dedicado e consciente movimento de proteção e busca torna-se urgente: silêncios para escutar e perceber, um renovado e sempre mais inteiro ir para dentro, um viver dentro: eu preciso saber o que, no cerne, me constitui o que me faz existir, o que sou verdadeiramente eu.

Quando ainda pequenos todos nós temos, bem naturalmente, essa necessidade de ir para dentro buscando (uns com mais força, outros com menos) e lá sempre encontramos maravilhas, tesouros, coisas que nos deliciam e às vezes também nos assustam, mas sempre fascinando-nos e enchendo-nos – tornamo-nos identificados, ficamos encantados, transformados, e trazemos nossas riquezas para a superfície. Porém a atualidade que nos cerca é diferente e raramente sabe responder adequadamente ao que oferecemos e perguntamos e queremos, e antes não ouve, ou corta ou até destrói, ou interpreta erroneamente, ou, simplesmente, diminui e banaliza, ou indiferentemente tolera, o que nos é imensamente caro e importante. Assim, em geral, perdemos o estimulo, desaprendemos a irmos para dentro e a sermos psiquicamente despertos e espontâneos – engrossamos e endurecemos, adaptando-nos ao poderoso mundo exterior.

Mais tarde, na adolescência, há normalmente um outro impulso de busca e entusiasmo, levando o ser a uma renovada abertura às dimensões interiores, e então acordamos mais uma vez entregamo-nos ao que é belo, ao que emociona, àquilo em que sentimos alguma força e grandeza. E possivelmente isto nos faz abrir-nos à arte, ou nos dedicamos a uma religiosidade intensa, identificamo-nos com um idealismo político, humanitário ou outro, ou ainda com alguma coisa diferente, maior do que nós. Mas depois esses movimentos tendem a se perder, pois a sinceridade que encontramos é pouca, pequenos são a compreensão e o esclarecimento que recebemos – são bem poucos os que nos respondem, que afirmam aquilo que estamos sentindo e querendo colocar em nossa existência como um componente real.

Finalmente, no lutar com o mundo exterior-adulto e com a inevitável adaptação a ele, temos que colocar em planos cada vez mais relegados nossa procura da força e da luz que poderiam indicar fontes autênticas da vida, lembrar seu sentido e âmago, sua maravilha. Então parece que o "livre crescer e progredir”, como se poderia denominar uma das projeções destacadas da educação de nossa época, não é compreendido tanto como um fundamento e potencial dinâmico para uma realidade vivencial plena e elevada, mas muito mais apenas como um novo princípio e método educacional experimental a ser aplicado.

Sri Aurobindo constatou há seis decênios o domínio e peso do anual mundo exterior sobre nós: carregamos certamente um peso terrível de exigência, regra e lei externas, e nossa necessidade de auto-expressão, do desenvolvimento de nossa pessoa verdadeira, nossa alma real, nossa lei-de-natureza característica mais íntima na vida, recebe interferências era cada um de seus movimentos, é impedida, é forçada para fora de seu curso, é-lhe dada uma chance e extensão bem pobres através de influências ambientes. Vida, Estado, sociedade, família, todos os poderes que nos rodeiam parecem estar aliados para colocarem seu jugo sobre nosso espírito, para compelir-nos para dentro de seus moldes e impor sobre nós seu interesse mecânico e sua rude conveniência imediata.

Tornamo-nos partes de uma máquina; não nos é permitido, ou dificilmente nos é permitido sermos no sentido verdadeiro, manusya, purusa, almas, mentes, filhos livres do espírito, equipados com os poderes de desenvolver a perfeição característica mais alta de nosso ser e fazer dela nosso meio de serviço à espécie. Parece realmente que não somos o que nós mesmos fazemos de nós, mas o que é feito de nós.3 Mas Sri Aurobindo não se satisfaz com uma simples constatação. Deduz desta situação existencial nossa uma exigência e tarefa a ser colocada para a educação: A educação da criança deveria ser um despertar e levar à realização tudo o que é melhor, mais poderoso, mais intimo e vivo em sua natureza.4 E com clareza absoluta ele vê e diz que nosso crescimento é expressamente individual, e que a educação não termina com a infância ou a adolescência, mas se estende para além, abrangendo a vida toda: O molde dentro do qual a ação e o desenvolvimento do homem deveriam ser fundidos é aquele de sua qualidade e poder inatos.

Ele tem que adquirir coisas novas, mas ele as adquirirá da melhor maneira, mais vitalmente, com base em seu próprio tipo desenvolvido e em sua força original. E assim também as funções de um homem deveriam ser determinadas por sua tendência, talento e capacidades naturais. O indivíduo que se desenvolve livremente desta maneira será uma alma e uma mente vivas e terá um poder muito maior para o serviço à espécie.

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manusya - um homem, um ser humano (da raiz do verbo sânscrito man - pensar)
purusa - Alma, a Pessoa espiritual; o Si ou Ser consciente que por sua presença e seu consentimento mantém as operações da Natureza.

Com uma idêntica profundeza e nitidez, a Mãe vê a necessidade de o homem simultaneamente desenvolver sua particularidade e servir ao todo – o que significa a existência simultânea, a fusão de movimento individual e movimento coletivo, de diversidade e unidade – e que viver esta simultaneidade em uma harmonia crescentemente total é a própria tarefa e realização da vida humana, e o objetivo de nosso esforço para a perfeição: ...todos são um, tudo é um em sua origem, mas cada coisa, cada elemento, cada ser tem como missão revelar uma parte desta unidade a ela mesma, e é esta particularidade que deve ser desenvolvida em cada um, despertando ao mesmo tempo o sentido da unidade original. É isto que significa trabalhar para a unidade na diversidade. E a perfeição nesta diversidade está em cada um ser perfeitamente o que ele deve ser.

6
Formulou-se com isto uma direção que aponta o objetivo essencial e a conseqüente tarefa da educação, a realização simultâneo de dois movimentos interligados: de um lado, o ajudar o ser a encontrar sua lei de crescimento característica e missão central e caminho, e a crescer de conformidade com eles; junto com isso, o fazê-lo ver e com força sentir a unidade que tudo forma, e como cada um de nós, integrando esta unidade, é um de seus múltiplos elementos, minúsculo em relação à imensidade do todo e no entanto indispensável para seu existir: pois a grandeza e o sentido e o poder complexos da unidade se originam justamente de sua constituição única, unindo uma infinidade de elementos característica e individualmente distintos entre si, entes não-estandartizados e não-massificados.

Vemos que para cada indivíduo coloca-se como trabalho primordial o descobrir-se a si mesmo, o concentrar-se na incontestável realidade das vivências interiores, o querer o movimento para dentro e o intensificá-lo, e a prontidão de silenciosamente escutar e, no íntimo, receber e saber. Só através disto pode cada um chegar a um conhecer-se mais total, a um ter-se, e ao afirmar o existir de dimensões outras - só através disto poderemos ver a necessidade de nos abrir a um além e de buscar a participação em uma vida maior, uma existência não fechada em torno do eu pessoal, sentindo com uma nitidez cada vez mais aguda a futilidade do predominante estar voltado para o bem e os males da própria pessoa. Pois cada um deve achar seu próprio lugar, o lugar que só ele pode ocupar no concerto geral, e ele deve dar-se inteiramente a isto, não esquecendo que está tocando apenas uma nota na simonia terrestre, e, no entanto, sua nota é indispensável à harmonia do todo, e seu valor depende de sua justeza.

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É à visão disto que a educação deve levar o educando - é a necessidade de construir a nossa unidade que deve vibrar na consciência e na vontade do educador, impulsionando e determinando sua ação. É assim que a base para um renascer pode ser colocada, um renascer da vida humana para fora de suas barreiras enrijecidas e armadas, para dentro de um novo grau e um novo sentido, tornando-se o homem outra vez criança, vivo e inteiro, novamente – e nascerá com a felicidade de poder evoluir e ser e agir.
Salvador, janeiro de 1974
rolf gelewski

A CIÊNCIA DE VIVER

Uma vida sem objetivo é uma vida sem alegria.

Tenham todos um objetivo. Mas não se esqueçam de que da qualidade de seu objetivo vai depender a qualidade de sua vida.

Que seu objetivo seja elevado e vasto, generoso e desinteressado; assim, sua vida se tornará preciosa para vocês mesmos e para os outros.

No entanto, qualquer que seja o ideal a que vocês se proponham atingir, vocês só poderão realizá-lo perfeitamente se realizarem a perfeição em vocês mesmos.

O primeiro passo neste trabalho de auto-aperfeiçoamento é tornar-se consciente de si, das diferentes partes de seu ser e de suas respectivas atividades. É preciso aprender a distinguir estas diferentes partes uma da outra, para que vocês se dêem conta claramente da origem dos movimentos que se produzem em vocês, dos impulsos, das reações, das veleidades diversas que os impelem a agir.

É um estudo assíduo que exige muita perseverança e sinceridade; pois a natureza do homem, especialmente sua natureza mental, tem a tendência espontânea de dar uma explicação favorável a tudo o que nós pensamos, sentimos, dizemos e fazemos. Somente observando estes movimentos com muito cuidado, fazendo-os passar, por assim dizer, diante do tribunal de nosso ideal mais alto, com uma vontade sincera de nos submetermos a seu julgamento, é que podemos esperar educar em nós um discernimento que não se engana de modo algum.

Pois se quisermos realmente progredir e adquirir a capacidade de conhecer a verdade de nosso ser, isto é, aquilo para que somos realmente feitos, o que podemos chamar nossa missão sobre a terra, precisamos, muito regularmente e muito constantemente, rejeitar de nós ou abolir em nós o que está em contradição com a verdade de nossa existência, o que se opõe a ela. É assim que pouco a pouco todas as partes, todos os elementos de nosso ser podem ser organizados em um todo homogêneo em torno de nosso centro psíquico. Este trabalho de unificação exige muito tempo para ser levado a algum grau de perfeição; assim, para realizá-lo, devemos armar-nos de paciência e perseverança, determinados a prolongar nossa vida tanto quanto for necessário para termos êxito em nosso empreendimento.

Ao mesmo tempo em que vocês prosseguem com este trabalho de purificação e unificação, é preciso dar bastante atenção ao aperfeiçoamento da pane exterior e instrumental de seu ser. Quando a verdade superior se manifestar, será preciso que ele encontre em vocês um mental rico e flexível o suficiente para ser capaz de conferir à idéia que quer expressar-se a forma de pensamento que conserve sua força e sua clareza. Este pensamento, por sua vez, quando quiser revestir-se de palavras, deve encontrar em vocês um poder de expressão suficiente para que as palavras revelem o pensamento e não o deformem de modo algum. E esta fórmula da qual vocês terão revestido a verdade deve ser manifestada em todos os seus sentimentos, todas as suas vontades, todas as suas ações, todos os movimentos de seu ser. Finalmente, estes próprios movimentos devem, por um esforço constante, atingir sua mais alta perfeição.

Tudo isto pode ser realizado com a ajuda de uma quádrupla disciplina cujas grandes linhas vão ser dadas aqui. Estes quatro aspectos da disciplina não excluem um ao outro, e podem ser seguidos ao mesmo tempo; de fato, é preferível que seja assim. O ponto de partida será o que pode ser chamado a disciplina psíquica. Damos o nome psíquico ao centro psicológico de nosso ser, a sede, em nós, da mais alta verdade de nossa existência, aquilo que tem o poder de conhecer e pôr em movimento esta verdade. É, portanto de importância capital tornar-se consciente de sua presença era nós, concentrarmo-nos nesta presença, até que ela seja um fato vivo para nós e possamos identificar-nos com ela.

Através do tempo e do espaço muitos métodos foram preconizados para obter esta percepção e finalmente realizar esta identificação. Certos métodos são psicológicos, outros religiosos, outros mesmo mecânicos. Na realidade, cada um deve encontrar o que melhor lhe convém; e se sua aspiração for ardente e tenaz, se sua vontade for persistente e dinâmica, é certo encontrar, de uma maneira ou de outra, exteriormente pela leitura ou pelo ensinamento, interiormente pela concentração, meditação, revelação e experiência, a ajuda de que se precisa para atingir seu objetivo. Só uma coisa é absolutamente indispensável : a vontade de descobrir e realizar. É preciso que esta descoberta e esta realização sejam a preocupação primordial do ser, a pérola de alto preço que se adquire custe o que custar. O que quer que vocês façam, sejam quais forem as suas ocupações e suas atividades, a vontade de descobrir a verdade de seu ser e de se unir a ela deve estar sempre viva e presente atrás de tudo o que vocês fazem, tudo o que vocês experienciam, tudo o que vocês pensam.

Para completar este movimento de descoberta interior, é bom não negligenciar o desenvolvimento mental. Pois o instrumento mental pode ser tanto uma grande ajuda quanto um obstáculo muito grande. A mentalidade humana, em seu estado natural, é sempre limitada em sua visão, estreita em sua compreensão, rígida em suas concepções. É preciso, portanto fazer um esforço constante para alargá-la, torná-la flexível e aprofundá-la. Assim, é muito necessário considerar cada coisa de tantos pontos de vista quanto possível. Neste sentido, existe um exercício que dá muita flexibilidade e elevação ao pensamento. É o seguinte: coloca-se uma tese, formulando-a claramente. Depois, opõe-se a ela sua antítese, formulada com a mesma precisão. Em seguida, por reflexão cuidadosa, é preciso ampliar o problema ou elevar-se acima dele, até que se encontre a síntese que una os dois contrários em uma idéia mais vasta, mais alta e mais abrangedora.

Muitos outros exercícios do mesmo tipo podem ser feitos; alguns têm um efeito benéfico sobre o caráter e têm assim uma dupla vantagem: a de educar o mental e a de estabelecer um controle sobre os sentimentos e suas conseqüências. Por exemplo, não se deve nunca permitir a seu mental julgar coisas e pessoas; porque o mental não é um instrumento de conhecimento; é impossível para ele encontrar o conhecimento, mas ele deve ser movido pelo conhecimento. O conhecimento pertence a um domínio muito mais elevado que o da mentalidade humana, bem acima da regar das idéias puras. O mental deve estar silencioso e atento, para receber o conhecimento do alto e para manifestá-lo; pois ele é um instrumento de formação, de organização e de ação; e é nestas funções que ele atinge seu valor pleno e sua real utilidade.

Um outro hábito que pode ser muito proveitoso para o progresso da consciência consiste - quando se está em desacordo com alguém sobre um assunto qualquer, uma decisão a tomar, um ato a cumprir - em nunca ficar fechado em sua própria concepção, seu próprio ponto de vista. Ao contrário, é preciso esforçar-se para compreender o ponto de vista do outro, colocar-se em seu lugar e, em vez de discutir ou mesmo brigar, é preciso encontrar a solução que possa satisfazer razoavelmente as duas partes: há sempre uma para pessoas de boa vontade.

É aqui que deve ser mencionada a disciplina do vital. O ser vital em nós é a sede dos impulsos e dos desejos, do entusiasmo e da violência, da energia dinâmica e das depressões desesperadas, das paixões e das revoltas. Ele pode pôr tudo em movimento, construir e realizar; mas pode também destruir e estragar tudo. Assim, talvez, no ser humano, ele é a parte mais difícil de disciplinar. É um trabalho de longo fôlego e de grande paciência, que exige uma sinceridade perfeita, pois sem sinceridade desde os primeiros passos nós nos iludiremos, e toda tentativa de progresso será vã.

Com a colaboração do vital nenhuma realização parece impossível, nenhuma transformação impraticável. Mas a dificuldade é obter esta colaboração constante. O vital é um bom trabalhador, mas na maioria das vezes procura sua própria satisfação. Quando ela lhe é recusada totalmente ou mesmo parcialmente ele fica perturbado, mal-humorado e faz greve; a energia desaparece mais ou menos completamente e deixa em seu lugar repugnância por coisas e por pessoas, desencorajamento ou revolta, depressão e descontentamento. Nesses momentos é bom ficar quieto e recusar-se a agir; pois são os momentos em que se faz besteiras e onde em alguns instantes pode-se destruir ou pôr abaixo meses de esforços regulares e o progresso que resulta deles. Estas crises são menos duráveis e menos perigosas no caso daqueles que estabeleceram suficientemente o contato com seu ser psíquico, assim mantendo viva em si a chama da aspiração e a consciência do ideal a realizar. Com a ajuda desta consciência, eles podem lidar com seu vital como se lida com uma criança revoltada, pacientemente e com perseverança, mostrando-lhe a verdade e a luz, esforçando-se para convence-lo e acordar nele a boa vontade que por um momento esteve velada. Graças a esta paciente intervenção, cada crise pode ser mudada em um novo progresso, em um passo a mais era direção ao objetivo. Os progressos podem ser lentos, as recaídas podem ser freqüentes, mas mantendo uma vontade corajosa é certo triunfar um dia e ver todas as dificuldades se dissolverem e desaparecerem diante da irradiação da consciência da verdade.

Finalmente, é preciso, por uma educação física racional e que vê claramente, tornar nosso corpo forte e flexível o suficiente para que ele se torne no mundo material o instrumento apropriado da força de verdade que quer se exprimir através de nós.
De fato, o corpo não deve reger; ele deve obedecer; e por sua própria natureza, ele é um servidor dócil e fiel. Infelizmente, ele raramente tem a capacidade de discernimento necessária em relação a seus mestres, a mente e o vital. Obedece-lhes cegamente, em grande detrimento de seu próprio bem-estar - O mental com seus dogmas e seus princípios rígidos e arbitrários, o vital com suas paixões, seus excessos e extravasamentos, apressaram-se em destruir o equilíbrio natural do corpo e criar nele os cansaços, as exaustões e as doenças.

E preciso tira-lo desta tirania, e isto só pode ser feito pela união constante com o centro psíquico do ser. O corpo tem uma notável capacidade de adaptação e resistência. Ele está apto a fazer bem mais coisas do que geralmente se pensa. Se, em vez dos mestres ignorantes e despóticos que o governam, ele for regido pela verdade central do ser, ficaremos maravilhados com aquilo de que ele é capaz. Calmo e tranqüilo, forte e equilibrado, ele poderá a cada minuto produzir o esforço que lhe for exigido, pois terá aprendido a encontrar o repouso na ação, e a recuperar, pelo contato com as forças universais, as energias gastas útil e conscientemente. Nesta vida equilibrada e sadia, uma nova harmonia se manifestará no corpo, refletindo a harmonia das regiões superiores, que dará a ele a perfeição das proporções e a beleza ideal das formas.

E esta harmonia será progressiva, pois a verdade do ser nunca é estática; ela é o perpétuo desdobramento de uma perfeição crescente, cada vez mais total e abrangedora. Assim que o corpo tiver aprendido a seguir este movimento de harmonia progressiva, ser-lhe-à permitido, através de uma transformação ininterrupta, escapar à necessidade da desintegração e da destruição. Assim a irrevogável lei da morte não mais terá razão de existir.

Quando tivermos atingido este grau de perfeição que é nosso objetivo, perceberemos que a verdade que procuramos é constituída de quatro aspectos principais: o amor, o conhecimento, o poder e a beleza. Estes quatro atributos da verdade se expressarão espontaneamente em nosso ser. O psíquico será o veículo do amor puro e verdadeiro, o mental o do conhecimento infalível, o vital manifestará o poder e a força invencíveis e o corpo será a expressão de uma beleza e de uma harmonia perfeitas.

EDUCAÇÃO
A educação de um ser humano deve começar em seu nascimento e prolongar-se durante todo o tempo de sua vida.

Em verdade, se se quer que esta educação tenha seu efeito máximo, é preciso começá-la antes do nascimento; e neste caso é a própria mãe que procede a esta educação, por meio de uma ação dupla: uma sobre ela mesma, para seu próprio aperfeiçoamento, outra sobre a criança que ela está formando fisicamente. Pois é certo que é a parte da educação que a mãe deve aplicar a si própria, e se ela acrescentar a isto uma vontade, consciente e precisa, de formar a criança de acordo com o ideal mais alto que ela pode conceber, então serão realizadas as melhores condições para que a criança apareça no mundo com o máximo de suas possibilidades. Quantos esforços difíceis e complicações inúteis serão assim evitados!

Para ser completa, uma educação deve ter cinco aspectos principais, referindo-se às atividades principais do ser humano : o físico, o vital, o mental, o psíquico e o espiritual. Geralmente estas fases da educação sucedem-se numa ordem cronológica acompanhando o crescimento do indivíduo, mas nenhuma é feita para substituir a outra, e todas devem continuar, completando-se mutuamente, até o fim da vida.
Nós nos propomos a estudar estes cinco aspectos da educação, um por um e também em suas relações recíprocas. Mas antes de entrar nos detalhes do assunto eu quero fazer uma recomendação aos pais.

A maioria deles, por várias razões, preocupa-se muito pouco com a educação verdadeira a ser dada às crianças. Quando puseram uma criança no mundo e quando lhe dão seu alimento e satisfazem suas diversas necessidades materiais, cuidando, mais ou menos bem, da conservação de sua saúde, eles acham que cumpriram todo o seu dever. Mais tarde, eles a colocarão na escola e se desencarregarão da preocupação com sua instrução, passando-a para os professores.

Outros pais sabem que seu filho deve receber educação e tentam dá-la. Mas bem poucos entre eles, mesmo entre os mais sérios e mais sinceros, sabem que a primeira coisa a fazer para ser capaz de educar uma criança é educar a si mesmo, tornar-se consciente e mestre de si, a fim de nunca dar um mau exemplo a seu filho. Pois é sobretudo através do exemplo que a educação é eficaz. Dizer boas palavras e dar sábios conselhos a uma criança tem muito pouco efeito, se a própria pessoa não lhe dá o exemplo do que lhe ensina.

A sinceridade, a honestidade, a retidão, a coragem, o desinteresse e o esquecimento de si, a paciência, a resistência e a perseverança, a paz, a calma e o domínio de si, todas estas coisas são ensinadas infinitamente melhor pelo exemplo do que por belos discursos. Pais, tenham um ideal elevado e ajam sempre de acordo com este ideal. Vocês verão pouco a pouco seu filho refletir este ideal nele mesmo e manifestar espontaneamente as qualidades que vocês querem ver expressadas em sua natureza. Bastante naturalmente uma criança tem respeito e admiração por seus pais; a menos que sejam seres inteiramente indignos, eles aparecerão sempre a seu filho como semideuses que ele se esforçará para imitar o melhor que possa.

Com raras exceções, os pais não se dão conta da influência desastrosa que seus defeitos, seus impulsos, suas fraquezas e sua falta de autocontrole exercem sobre seus filhos. Se vocês querem ser respeitados por uma criança, tenham respeito por vocês mesmos e sejam a cada momento dignos de respeito; nunca sejam nem autoritários, nem despóticos, nem impacientes, nem encolerizados; quando seu filho lhe faz uma pergunta, não responda a ele com uma estupidez ou uma tolice, sob o pretexto de que ele não pode compreender você; há sempre um meio de se fazer entender se você se esforça o suficiente, e, apesar do ditado popular que afirma que nem sempre é bom dizer a verdade, eu asseguro que é sempre bom dizer a verdade, mas a arte consiste em saber dizê-la de uma maneira acessível à mente de quem ouve. No começo da vida, até doze ou quatorze anos, a mentalidade da criança não tem acesso às noções abstratas e às idéias gerais; no entanto pode-se habitua-la a compreendê-las usando imagens concretas, símbolos e parábolas. Até uma idade consideravelmente avançada, e para alguns que mentalmente permanecem sempre crianças, uma narrativa, um conto, uma estória, bem contados, ensinam muito mais do que uma porção de explicações teóricas.

Um outro empecilho a ser evitado: só repreenda seu filho estando ciente do que você faz e quando completamente indispensável. Uma criança repreendida com demasiada freqüência torna-se insensível às censuras e passa a dar pouca importância às palavras e ao tom severo. Sobretudo, tenha muito cuidado em não repreendê-la por uma falta que você mesmo comete; as crianças são observadores atentos e perspicazes; elas vão logo descobrir suas fraquezas e as registrarão sem piedade.

Se uma criança cometeu um erro, proceda de tal modo que ela o conte a você espontânea e francamente, e quando ela tiver contado, faça-a compreender com delicadeza e afeição o que havia de errado em seu movimento, para que ela não o repita; mas nunca a repreenda; um erro confessado deve sempre ser perdoado. Você não deve permitir que nenhum medo se insinue entre você e seu filho; o medo é um meio nefasto de educação: invariavelmente dá origem à dissimulação e à mentira. Só uma ternura perspicaz, firme mas doce, e um conhecimento prático suficiente, criarão os laços de confiança indispensáveis para que você possa eficazmente educar seu filho. E não se esqueçam de que vocês devem constantemente superar-se para estar à altura da tarefa e verdadeiramente cumprir o dever que vocês assumiram em relação a uma criança, pelo simples fato de tê-la trazido à existência.

A EDUCAÇÃO FÍSICA
De todos os domínios da consciência humana, o físico é o mais completamente governado por método, ordem, disciplina, modo de ação. A falta de plasticidade e receptividade da matéria deve ser aí substituída por uma organização em detalhe, ao mesmo tempo precisa e abrangedora. Nesta organização não se deve esquecer a interdependência e interpenetração de todos os domínios do ser. No entanto, mesmo um impulso mental ou vital, para se exprimir fisicamente, deve submeter-se a um procedimento exato. É por isso que toda educação do corpo, para ser eficaz, deve ser rigorosa e detalhada, previdente e metódica. Isto será traduzido em hábitos; o corpo é um ser de hábitos. Mas estes devem ser controlados e disciplinados, continuando ao mesmo tempo suficientemente flexíveis para se adaptar às circunstâncias e necessidades do crescimento e desenvolvimento do ser.

Toda educação do corpo deve começar no próprio nascimento e continuar durante toda a vida: nunca é cedo demais para começar, nunca tarde demais para continuar.
A educação física terá três aspectos principais: 1. controle e disciplina do funcionamento do corpo; 2. desenvolvimento integral, metódico e harmonioso de todas as partes e de todos os movimentos do corpo; 3. correção de defeitos e deformidades, no caso de haver algum.

Pode-se dizer que desde os primeiros dias, quase as primeiras horas de sua vida, a criança deve ser submetida à primeira parte deste programa, no que se refere à alimentação, ao sono, à evacuação, etc. Se desde o começo de sua existência a criança adquirir bons hábitos, isto lhe evitará muitos aborrecimentos e desgostos pelo resto de sua vida. E também aqueles que se encarregam de cuidar dela durante seus primeiros anos de vida acharão sua tarefa muito mais fácil.

Naturalmente esta educação, para ser racional, esclarecida e eficaz, deve ser baseada em um mínimo de conhecimento do corpo humano, sua estrutura e seu funcionamento. À medida em que a criança se desenvolve, será preciso habituá-la pouco a pouco a perceber o funcionamento de seus órgãos internos a fim de que ela possa progressivamente controlá-los e cuidar para que este funcionamento seja normal e harmonioso. Em relação a atitudes, posturas e movimentos, os maus hábitos sé adquirem muito cedo e muito depressa, e podem ter conseqüências funestas por toda a vida. Aqueles que levam a sério a questão da educação física e querem dar a seus filhos as melhores condições para se desenvolverem normalmente, encontrarão facilmente as indicações e instruções necessárias. O assunto é cada vez mais cuidadosamente estudado e numerosos livros apareceram e continuam a aparecer, dando todas as informações desejadas.

Não me é possível entrar aqui nos detalhes de execução, porque cada problema é diferente do outro e a solução deve adaptar-se ao caso individual. A questão do alimento foi longa e cuidadosamente estudada; o regime a seguir para ajudar as crianças em seu crescimento é geralmente mais ou menos conhecido e pode ser aplicado utilmente. Mas é muito importante lembrar-se de que o instinto do corpo, quando intacto, é mais seguro do que qualquer teoria. Assim, aqueles que querem deixar seu filho desenvolver-se normalmente não devem obrigá-lo a comer alimentos aos quais ele tenha aversão; pois na maioria das vezes, a menos que a criança seja particularmente caprichosa, o corpo tem um instinto seguro do que lhe é prejudicial.

Em seu estado normal, quer dizer, sem a intervenção de noções mentais nem de impulsos vitais, o corpo sabe também muito bem o que lhe é bom e necessário, mas para que isto possa efetuar-se realmente é preciso educar a criança com cuidado e ensinar-lhe a distinguir seus desejos de suas necessidades. É preciso dar a ela o gosto pelo alimento simples e saudável, substancial e apetitoso, mas sem complicações inúteis. Em seu regime cotidiano é preciso evitar tudo que enche e causa peso; e sobretudo é preciso ensinar-lhe a comer de acordo com sua fome, nem mais nem menos, e não a fazer das refeições uma ocasião para satisfazer sua avidez ou sua gulodice. É necessário saber desde a infância que se come para dar a seu corpo força e saúde, não para gozar os prazeres do paladar. Deve-se dar às crianças o alimento que convém a seu temperamento, preparado com todas as garantias de higiene e limpeza, com um gosto agradável, mas de uma grande simplicidade; e este alimento deve ser escolhido e dosado de acordo com a idade da criança e suas atividades regulares; deve conter todos os elementos químicos e dinâmicos necessários a seu desenvolvimento e ao crescimento equilibrado de todas as partes do corpo.

Como só se dará à criança para comer aquilo que é útil para mantê-la em boa saúde e supri-la com as energias necessárias, é preciso cuidadosamente abster-se de usar o alimento como um meio de coerção ou punição. O hábito de dizer a uma criança: Você não se comportou direito, você vai ficar sem sobremesa, etc., é totalmente pernicioso. Cria-se assim em sua pequena consciência a impressão de que os alimentos lhe são dados principalmente para agradar a sua gulodice e não porque eles sejam indispensáveis para o bom funcionamento de seu corpo.

Uma outra coisa deve ser ensinada a uma criança desde bem pequena – é o gosto por limpeza e o hábito da higiene; mas para obter esta limpeza e o respeito pelas regras de higiene, deve-se tomar um grande cuidado para não inculcar nela o medo das doenças: o medo é o pior incentivo para a educação e o meio mais seguro de atrair o que se teme. No entanto, sem temer a doença, também não se deve ter uma inclinação por ela. Há uma crença corrente de que espíritos brilhantes têm corpos fracos. É uma opinião tão ilusória quanto sem fundamento; e se houve talvez uma época em que existia um gosto romântico e mórbido pelo desequilíbrio físico, esta tendência felizmente desapareceu. Hoje em dia um corpo bem construído, sólido, musculoso, forte e em bom equilíbrio é apreciado em seu justo valor. De qualquer forma, é preciso incutir nas crianças o respeito à saúde e a admiração pelo homem saudável cujo corpo vigoroso sabe repelir os ataques da doença.

Muitas vezes uma criança finge estar doente para escapar de uma necessidade aborrecida, de um trabalho que não a interessa, ou simplesmente para enternecer seus pais e obter deles a satisfação de algum capricho. Deve-se também ensinar às crianças, tão cedo quanto possível, que esse procedimento nada vale e que não se é mais interessante por estar doente, ao contrário. Nos seres fracos existe a tendência de acreditar que sua fraqueza os torna particularmente interessantes, e de usar esta fraqueza e mesmo sua doença, se necessário, como meio de atrair para eles a atenção e a simpatia de pessoas que estão era volta deles ou vivem com eles. Não se deve de modo algum encorajar esta tendência nefasta; para isto será bom ensinar à criança que estar doente é o sinal de uma deficiência ou de uma inferioridade, não de uma virtude ou de um sacrifício.

É por isso que, logo que a criança possa fazer uso de seus membros, será preciso consagrar cotidianamente um certo tempo ao desenvolvimento metódico e normal de todas as partes de seu corpo. Cada dia uns vinte ou trinta minutos, de preferência ao despertar, se possível, serão suficientes para assegurar o bom funcionamento e o crescimento equilibrado de seus músculos, prevenindo ao mesmo tempo o enrijecimento das juntas e da coluna vertebral, que ocorre muito mais cedo do que se pensa. No programa geral da educação de uma criança é preciso dar um bom lugar aos esportes e aos jogos ao ar livre; isto, mais do que todos os remédios do mundo, irá assegurar-lhe uma boa saúde.

Uma hora de movimentação ao sol contribui mais para curar a fraqueza e mesmo a anemia do que todo um arsenal de fortificantes. Meu conselho é não usar remédios a não ser quando absolutamente impossível fazer de outro modo; e este absolutamente impossível deve ser muito rigoroso. Embora haja no programa de cultura física linhas gerais bem conhecidas de como melhor desenvolver o corpo humano, ainda assim em cada caso o método, para ser completamente eficaz, deve ser considerado individualmente, se possível com a ajuda de uma pessoa competente ou, em falta disso, servindo-se das numerosas publicações sobre o assunto, que já apareceram e continuam a aparecer. Mas em todos os casos e sejam quais forem suas atividades, uma criança deve ter um número suficiente de horas de sono. Este número irá variar com a idade. No berço, os bebês devem dormir mais tempo do que ficam acordados.

O número de horas de sono diminuirá à medida que a criança cresce; mas até a idade adulta este número não deverá ser inferior a oito horas, em um lugar tranqüilo e bem ventilado. Não se deve nunca fazer uma criança ficar acordada inutilmente. As horas antes de meia-noite são as melhores para o repouso dos nervos. Mesmo durante as horas de vigília, o relaxamento é uma coisa indispensável para todos aqueles que querem conservar seu equilíbrio nervoso. Saber relaxar seus músculos e seus nervos é uma arte que deveria ser ensinada às crianças desde bem pequenas; e no entanto há muitos pais que, ao contrário, forçam seu filho a uma constante atividade. Quando a criança fica tranqüila eles pensam que ela está doente.

E mesmo existem pais que têm o mau hábito de obrigar seu filho a fazer trabalhos domésticos às custas de seu descanso ou de seu relaxamento. Nada é pior para um sistema nervoso em formação, que não poderá resistir à tensão de um esforço muito contínuo ou de uma atividade imposta e não livremente escolhida. Arriscando ir contra muitas idéias correntes e quebrar com muitos preconceitos, eu afirmo que não é justo exigir os serviços de uma criança como se fosse seu dever servir seus pais. O contrário seria mais verdadeiro; e certamente é natural para os pais servir seu filho, ou ao menos ter um grande cuidado com ele. Somente se uma criança escolhe livremente trabalhar para sua família, e faz este trabalho como um brinquedo, é que a coisa é admissível. E ainda é preciso tomar cuidado para que isto não diminua em nada as horas de um repouso absolutamente indispensável para o bom funcionamento de seu corpo.

Eu disse que desde cedo é preciso incutir nas crianças o respeito pela boa saúde, pela força e equilíbrio físicos. É preciso insistir também na grande importância da beleza. Uma criança pequena deve aspirar à beleza, não para agradar ou ter sucesso mas pelo amor à própria beleza: pois a beleza é o ideal a ser realizado por toda vida física. Em cada ser existe a possibilidade de uma harmonia das diferentes partes de seu corpo entre si e dos movimentos de seu corpo em ação. Todo corpo que desde o começo de sua existência é submetido a um método racional de cultura pode realizar sua harmonia própria e assim estar apto a manifestar a beleza. Quando falarmos dos outros aspectos de uma educação integral veremos quais são as condições interiores a serem cumpridas para que esta beleza possa manifestar-se um dia.

Até agora eu só mencionei a educação a ser dada às crianças, porque através de uma educação física esclarecida, dada no tempo propício, muitos defeitos corporais podem ser corrigidos, muitas deformações podem ser evitadas. Mas se, por uma razão qualquer, esta educação física não foi dada durante a infância e mesmo durante a juventude, ela pode ser começada em não importa que idade e continuada durante toda a vida. Mas quanto mais tarde se começa, mais se deve estar preparado para encontrar maus hábitos que têm que ser corrigidos, coisas rígidas a serem tornadas flexíveis, deformações a serem retificadas. E este trabalho preparatório exigirá muita paciência e perseverança antes que se possa começar com um programa construtivo de harmonização da forma e de seus movimentos. Mas se você guarda vivo em você o ideal de beleza a ser realizado, é cena você alcançar, cedo ou tarde, o objetivo a que você se propôs.

A EDUCAÇÃO VITAL
De todas as educações, a educação vital é talvez a mais importante, a mais indispensável. No entanto raramente ela é empreendida e seguida com discernimento e método. Há várias razões para isso; a primeira é que o pensamento humano está em uma grande confusão no que diz respeito a este assunto particular; a segunda, que o empreendimento é muito difícil, e para se ter sucesso nele é preciso uma resistência, uma persistência sem limite e uma vontade que nenhum insucesso pode dobrar.

Realmente, na natureza humana, o vital é um tirano despótico e exigente. Além disso, como ele é o detentor do poder, da energia, do entusiasmo e dinamismo realizador, muitas pessoas têm por ele um respeito temeroso e tentam sempre agrada-lo. Mas ele é um mestre a quem nada satisfaz e suas exigências não têm limites. Duas idéias muito difundidas, sobretudo no Ocidente, contribuem para tornar seu domínio mais soberano. Uma é que o objetivo principal da vida é ser feliz. A outra, que se nasce com um certo caráter e que é impossível muda-lo.

A primeira destas duas idéias é a deformação infantil de uma verdade muito profunda. É que toda existência se baseia na alegria de ser e que sem a alegria de ser não haveria vida. Mas é preciso não confundir esta alegria de ser, que é um atributo do Divino e que portanto é incondicionada, com a busca do prazer na vida, que depende em grande parte das circunstâncias. A convicção de que se tem o direito de ser feliz leva, muito naturalmente, à vontade de viver sua vida custe o que custar; esta atitude, por seu egoísmo obscuro e agressivo, leva a todos os conflitos, todas as misérias, todas as decepções, todos os desencorajamentos e termina muito freqüentemente em catástofres.

No mundo como ele é agora, o objetivo da vida não é obter uma felicidade pessoal, mas despertar progressivamente o indivíduo para a consciência da verdade.
A segunda idéia provem do fato de que para mudar fundamentalmente o caráter é preciso um domínio quase total do subconsciente e uma disciplina muito rigorosa do que vem do inconsciente e que se traduz, nas naturezas comuns, nos resultados do atavismo e do meio em que se nasce. Somente um crescimento quase anormal da consciência e a ajuda constante da Graça podem efetuar esta tarefa hercúlea. Além disso, ela raramente foi tentada; e muitos instrutores célebres declararam-na irrealizável e quimérica. No entanto ela não é irrealizável; a transformação do caráter foi efetivamente realizada, com a ajuda de uma disciplina de clara visão e de uma perseverança tão obstinada que nada, nem mesmo os fracassos mais persistentes, pode desencorajá-la.

O ponto de partida indispensável é uma observação detalhada e perspicaz do caráter que se quer transformar. Na maioria dos casos, mesmo isto é uma tarefa difícil e freqüentemente muito desconcertante. Mas há um fato que as tradições antigas conheciam e que pode servir de fio condutor no labirinto da descoberta interior. É que cada um, em uma grande medida e com uma precisão que se afirma cada vez mais nos indivíduos excepcionais, possui em seu caráter, em proporção quase igual, as duas tendências opostas que são como a luz e a sombra de uma mesma coisa. Assim, aquele que tiver em si a capacidade de ser excepcionalmente generoso, verá surgir repentinamente em sua natureza uma avareza obstinada; o corajoso será em algum lugar um covarde e o bom terá de repente impulsos maus. Assim a vida parece dar a cada um, com a possibilidade de um ideal a expressar, os elementos opostos que podem representar de modo concreto a batalha a ser travada e a vitória a ser conquistada para que a realização se torne possível. Por conseguinte, toda vida é uma educação levada adiante mais ou menos conscientemente, mais ou menos voluntariamente.

Em certos casos esta educação favorecerá os movimentos que expressarão a luz, em outros, ao contrário, os movimentos que expressarão a sombra. Se as circunstâncias e o meio forem favoráveis, a luz crescerá em detrimento da sombra, de outro modo acontecerá o contrário. E assim o caráter do indivíduo se cristalizará de acordo com os caprichos da natureza e os determinismos da vida material e vital. A menos que intervenha a tempo um elemento superior, uma vontade consciente que não deixará a natureza seguir seus procedimentos fantasistas, substituindo-os por uma disciplina lógica e de clara visão. Esta vontade consciente é o que chamamos um método racional de educação. É por isso que é de uma importância capital começar a educação vital da criança o mais cedo possível; na verdade, tão logo ela seja capaz de servir-se de seus sentidos; assim, muitos maus hábitos serão evitados e muitas influências prejudiciais serão eliminadas.

Esta educação vital tem dois aspectos principais, muito diferentes em seu objetivo e em seus procedimentos, mas ambos são igualmente importantes. O primeiro diz respeito ao desenvolvimento e ao uso dos órgãos dos sentidos; o segundo, à tomada de consciência e ao domínio progressivo do caráter, para chegar finalmente a sua transformação.

A própria educação dos sentidos tem vários aspectos, acrescentando-se um ao outro à medida que o ser cresce, e de fato ela não deveria parar nunca. Os órgãos dos sentidos, sendo cultivados apropriadamente, podem atingir uma precisão e um poder de funcionamento que ultrapassa muito o que normalmente se espera deles.
Certas iniciações antigas afirmavam que o número dos sentidos que o homem pode desenvolver não é cinco mas sete, e em alguns casos especiais até doze. Em certas épocas, cenas raças humanas, por necessidade, desenvolveram mais ou menos perfeitamente um ou outro desses sentidos suplementares.

Por meio de uma disciplina apropriada e tenaz, eles estão ao alcance de todos aqueles que estiverem sinceramente interessados neste desenvolvimento e suas conseqüências. Entre as faculdades freqüentemente mencionadas há, por exemplo, a de alargar sua consciência física, projetá-la para fora de si para concentra-la num ponto definido e assim obter a visão, a audição, o olfato, o paladar e mesmo o tato à distância.

A esta educação geral dos sentidos e de seu funcionamento será adicionado, tão cedo quanto possível, o cultivo do discernimento e do sentido estético, a capacidade de escolher e de adotar o que é belo e harmonioso, simples, saudável e puro; pois há uma saúde psicológica assim como uma saúde física; há uma beleza e uma harmonia das sensações assim como uma beleza dos corpos e seus movimentos. Na educação, à medida que a capacidade de compreender crescer na criança, será preciso ensinar-lhe a adicionar ao poder e à precisão o gosto artístico e o refinamento. Será preciso mostrar a ela, fazê-la apreciar e ensinar-lhe a amar as coisas belas, elevadas, saudáveis e nobres, seja na natureza ou na criação humana. Deverá ser uma verdadeira cultura estética que a protegerá contra as influências degradantes. Pois, em seguida às últimas guerras e à terrível tensão nervosa que elas provocaram, como um sinal, talvez, de degeneração da civilização e de decomposição social, uma vulgaridade crescente parece ter tomado conta da vida humana, coletiva e individual, muito particularmente no plano da vida estética e sensorial dos homens. Uma cultura metódica e esclarecida dos sentidos pode eliminar da criança, pouco a pouco, aquilo que, através de contágio, é vulgar, banal e grosseiro; e esta cultura terá repercussões muito felizes sobre seu próprio caráter. Pois aquele que tiver atingido um verdadeiro refinamento do gosto se sentirá impedido, por causa deste próprio refinamento, de agir de um modo grosseiro, brutal ou vulgar. O refinamento, se é sincero, traz ao ser uma nobreza e uma generosidade que se traduz irão espontaneamente em seu modo de agir e o protegerão de muitas baixezas e perversões.
E isto nos leva muito naturalmente ao segundo aspecto da educação vital, aquele que diz respeito ao caráter e sua transformação.

Geralmente todas as disciplinas que lidam com o ser vital, com sua purificação e seu domínio, procedem por coerção, supressão, abstinência, ascetismo. Este procedimento é certamente mais fácil e mais rápido, embora menos profundamente durável e eficaz do que aquele de uma educação rigorosa e detalhada. Além disso, ele elimina toda possibilidade de intervenção, de ajuda e de colaboração do vital. E no entanto esta ajuda é das mais importantes se se quer que o crescimento do indivíduo e de sua ação sejam totais.

Tomar-se consciente dos diversos movimentos em si, saber o que se faz e por que se faz é um ponto de partida indispensável. É preciso ensinar a criança a observar, a notar suas reações, seus impulsos e suas causas, a tomar-se a testemunha perspicaz de seus desejos, dos movimentos de violência e paixão, dos instintos de posse, de apropriação e de domínio e do background de vaidade sobre o qual eles se apoiam com seus complementos de fraqueza, desencorajamento, depressão e desespero.

Evidentemente, para que o processo seja útil, juntamente com o crescimento do poder de observação, deve crescer também a vontade de progresso e de aperfeiçoamento. Esta vontade será inculcada na criança logo que ela for capaz deter uma vontade, quer dizer, muito mais jovem do que geralmente se crê.

Para despertar essa vontade de ultrapassar e de vencer, existem modos diferentes que se adaptarão a casos diferentes. Sobre certos indivíduos os argumentos racionais têm efeito; para outros é preciso fazer agir os sentimentos e a boa vontade, em outros, ainda, a dignidade e o auto-respeito; para todos, o exemplo dado constantemente e sinceramente é o meio mais poderoso.

Uma vez a resolução bem estabelecida, a única coisa a fazer é proceder com rigor a persistência e nunca aceitar os fracassos como definitivos. Para evitar todo enfraquecimento e todo recuo, há um ponto muito importante que deve ser conhecido e que não se deve esquecer nunca: a vontade pode ser cultivada e desenvolvida como se desenvolve os músculos, por exercício metódico e progressivo. Não se deve ter medo de exigir de sua vontade seu esforço máximo, mesmo para uma coisa que parece sem importância, pois é pelo esforço que sua capacidade cresce e adquire pouco a pouco o poder de aplicar-se mesmo às coisas mais difíceis. O que você decidiu fazer você deve fazer, custe o que custar, mesmo se para isto for preciso recomeçar seu esforço um grande número de vezes. Sua vontade se fortificará pelo esforço e você terá só que escolher com discernimento o objetivo ao qual você irá aplicá-la.

Resumiremos assim: adquirir o completo conhecimento de seu caráter, depois o controle de seus movimentos, para chegar a um perfeito domínio e à transformação dos elementos que devem ser transformados.

Mas tudo irá depender do ideal para o cumprimento do qual será feito o esforço de domínio e de transformação. Do valor do ideal dependerá o valor do esforço e de seu resultado. É o assunto que será tratado na educação mental.

A EDUCAÇÃO MENTAL
De todas as educações a educação mental é a mais conhecida e a mais praticada; no entanto, afora umas poucas exceções, ela contém lacunas que fazem dela algo muito incompleto e, decididamente, muito insuficiente.

De um modo geral, a instrução é considerada como a educação mental necessária. E quando se submeteu uma criança durante anos a um treinamento metódico, que mais parece um entupimento do cérebro do que uma verdadeira instrução, pensa-se ter feito o necessário para seu desenvolvimento mental. Mas não é nada disso. Mesmo admitindo que o treinamento seja feito com medida e discernimento, e que não deteriore para sempre o cérebro, ele não é capaz de dar ao mental humano as faculdades requeridas para ser um instrumento bom e útil. A instrução, como ela é dada usualmente, pode no máximo servir como uma ginástica para aumentar a flexibilidade do cérebro. E desse ponto de vista, cada ramo do saber humano representa um gênero especial de ginástica mental, como cada formulação verbal dada a cada uma dessas ramificações constitui uma linguagem especial e definida.

A verdadeira educação mental, aquela que vai preparar o homem para uma vida superior, tem cinco fases principais. Normalmente estas fases se sucedem, mas em indivíduos excepcionais elas podem vir alternadamente ou mesmo simultaneamente. Em

resumo, essas cinco fases são :
1. Desenvolvimento do poder de concentração, da capacidade de atenção.
2. Desenvolvimento das capacidades de expansão, alargamento, complexidade e riqueza.
3. Organização das idéias em torno de uma idéia central, um ideal superior ou uma idéia soberanamente luminosa que servirá de guia à vida.
4. Controle dos pensamentos, rejeição dos pensamentos indesejáveis,, para que se possa, afinal, pensar apenas o que se quer e quando se quiser.
5. Desenvolvimento do silêncio mental, da calma perfeita e de uma receptividade cada vez mais total às inspirações vindas das regiões superiores do ser.
Não é possível dar aqui todos os detalhes referentes aos métodos a serem empregados na aplicação destas cinco fases de educação a diferentes indivíduos. No entanto, algumas explicações de detalhe podem ser dadas.

Incontestavelmente o que mais impede o progresso mental nas crianças é a constante dispersão do pensamento. Seu pensamento esvoaça de um lado para o outro como uma borboleta, e para fixá-lo elas têm que fazer um esforço muito grande. No entanto, a capacidade está latente nelas. Pois quando você consegue interessá-las, elas são capazes de ter bastante atenção. É portanto a engenhosidade do educador que, pouco a pouco, tornará a criança capaz de um esforço de atenção sustentado e de uma faculdade de absorção cada vez mais total no trabalho, no momento em que ele é feito. Para desenvolver esta faculdade de atenção todos os meios são bons, e podem ser utilizados de acordo com a necessidade e as circunstâncias, desde jogos até recompensas. Mas a ação psicológica é a mais importante, o meio supremo é despertar na criança interesse por aquilo que se quer ensinar a ela, o gosto pelo trabalho, a vontade de progresso. Amar aprender é o presente mais precioso que se pode fazer a uma criança; amar aprender sempre e em todo lugar; que todas as circunstâncias, todos os acontecimentos da vida sejam ocasiões, constantemente renovadas, de aprender mais e sempre mais.

Para isto, à atenção e à concentração devem ser acrescentadas a observação, a exatidão de registro e a fidelidade da memória. Esta faculdade de observação pode ser desenvolvida por exercícios variados e espontâneos, aproveitando todas as ocasiões que se oferecem para manter o pensamento da criança em um estado desperto, alerta e pronto. É preciso insistir muito mais no crescimento da compreensão do que no da memória. Só se sabe bem o que se compreendeu. As coisas aprendidas de cor, mecanicamente, desvanecem pouco a pouco e acabam se apagando. O que se compreende não se esquece nunca. Além disso, não se deve em nenhum caso recusar-se a explicar a uma criança o como e o porquê das coisas. Se nós mesmos não podemos fazê-lo, devemos encaminhar a criança às pessoas qualificadas para responder ou indicar-lhe livros que tratem da questão. É deste modo que será despertado progressivamente na criança o gosto pelo estudo verdadeiro e o hábito do esforço persistente para saber. Isto levará bastante naturalmente à segunda fase do desenvolvimento, aquela em que o mental deve alargar-se e enriquecer-se- Progressivamente se mostrará à criança que tudo pode tornar-se um assunto de estudo interessante, desde que a questão seja abordada da maneira certa. A vida de cada dia, de cada momento, é a melhor das escolas, variada, complexa, rica em experiências imprevistas, em problemas a resolver, em exemplos fortes e claros e em conseqüências evidentes.

É tão fácil despertar uma curiosidade boa nas crianças se se responde com inteligência e clareza às inúmeras perguntas que elas fazem. Com uma resposta interessante desperta-se facilmente outras, e assim a criança atenta aprende sem esforço muito melhor do que ela o faz geralmente nos bancos da escola. Através de uma escolha esclarecida e cuidadosa deve-se também dar a ela o gosto pela boa leitura, aquela que é ao mesmo tempo instrutiva e atraente. Não se deve temer aquilo que desperta e satisfaz sua imaginação; é pela imaginação que se desenvolve a faculdade mental criadora, é por ela que os estudos se tornam vivos e o mental se desenvolve na alegria.

Para aumentar a flexibilidade e a capacidade de compreensão do mental, não se deveria somente considerar o grande número e a variedade de assuntos de estudo, mas sobretudo a diversidade de aproximação ao mesmo assunto, para fazer compreender de uma maneira prática à criança que há muitos modos de encarar o mesmo problema intelectual, de considera-lo e resolvê-lo. Isto irá retirar de seu cérebro toda rigidez, e ao mesmo tempo enriquecerá seu pensamento, torná-lo-á flexível e o preparará para uma síntese mais complexa e mais abrangedora. Desta maneira também, se incutirá na criança o sentido da extrema relatividade do saber mental, e pouco a pouco se despertará nela a aspiração a uma fonte mais verdadeira de conhecimento.
Realmente, com o progresso nos estudos e o crescimento em idade, o mental da criança amadurece e se torna cada vez mais capaz de idéias gerais; com elas vem quase sempre uma necessidade de certeza, de um conhecimento suficientemente estável para que se possa fazer dele a base de uma construção mental, o que permitirá que todas as noções diversas e espalhadas, freqüentemente contraditórias, acumuladas no cérebro, sejam organizadas e colocadas em ordem. Este ordenar é realmente muito necessário, se quisermos evitar o caos em nossos pensamentos. Todas as contradições podem ser transformadas em complementações, mas para isso é preciso descobrir a idéia mais alta que terá o poder de uni-las harmoniosamente.

É sempre bom considerar cada problema de todos os pontos de vista possíveis, para não ser nem parcial nem exclusivo, mas se se quer que o pensamento seja ativo e criador, é preciso que em cada caso ele seja a síntese natural e lógica de todos os pontos de vista adotados. E se se quer fazer do conjunto de seus pensamentos uma força dinâmica e construtiva, é preciso dar bastante atenção à escolha da idéia central de sua síntese mental pois dela dependerá o valor desta síntese; quanto mais alta e ampla a idéia central, e quanto mais universal ela é, elevando-se acima do espaço e do tempo, maior e mais complexo será o número das idéias, noções e pensamentos que ela será capaz de organizar e harmonizar.

Não é preciso dizer que este trabalho de organização não pode ser feito de uma vez por todas. O mental, para manter seu vigor e sua juventude, deve progredir constantemente, rever suas noções à luz de conhecimentos novos, alargar suas estruturas para adotar noções novas e constantemente reclassificar e reorganizar seus pensamentos para que cada um deles ocupe seu lugar certo em relação aos outros, para que o todo fique harmonioso e ordenado.

Tudo o que foi dito agora refere-se ao mental especulativo, aquele que aprende. Mas aprender é somente um aspecto da atividade mental; o outro, pelo menos tão importante quanto este, é a faculdade construtiva, a capacidade de formar e assim de preparar a ação. Esta parte da atividade mental, apesar de muito importante, raramente é objeto de um estudo ou disciplina especial. Somente aqueles que querem, por alguma razão, exercer um controle estrito sobre suas atividades mentais pensam em observar e disciplinar sua faculdade de formação; e ainda assim, logo que o tentam, eles se encontram diante de dificuldades tão grandes que parecem quase intransponíveis.

E no entanto, o controle desta atividade mental formativa é um dos aspectos mais importantes da auto-educação, e pode-se dizer que nenhum domínio da mente é possível sem ela. Quanto ao estudo, todas as idéias são aceitáveis e devem ser admitidas para fazer parte de uma síntese que tem como função tornar-se cada vez mais rica e complexa; mas quanto à ação, é bem o contrário. As idéias admitidas para se manifestarem em ação devem ser estritamente controladas. E apenas aquelas que estão em consonância com a tendência geral da idéia central que forma a base da síntese mental devem ser autorizadas a se traduzir em ação. Isto significa que todo pensamento que penetra a consciência mental deve ser colocado diante da idéia central; se ele encontrar um lugar lógico entre os pensamentos já agrupados, será admitido na síntese; se não, será rejeitado, para que não possa ter nenhuma influência sobre a ação. Este trabalho de purificação mental deve ser feito muito regularmente para nos assegurar um controle completo sobre nossas ações.

Para isto é bom reservar todos os dias um pouco de tempo livre e tranqüilo, durante o qual se fará a revisão de seus pensamentos e se colocará ordem em sua síntese. Uma vez o hábito adquirido, pode-se manter o controle sobre seus pensamentos mesmo durante a ação, o trabalho, e só deixar vir à superfície aqueles que são úteis para aquilo que no momento se faz. Sobretudo se se continuou a cultivar o poder de concentração e atenção é possível deixar entrar na consciência exterior ativa apenas os pensamentos que são necessários, os quais se tornam então muito mais dinâmicos e eficazes. E se, na intensidade da concentração, tornar-se necessário não pensar de modo algum, pode-se acalmar toda a vibração mental e obter um silêncio quase total. É neste silêncio que pouco a pouco podemos abrir-nos a regiões superiores do mental e aprender a registrar as inspirações que vêm de lá.

Mas mesmo antes de se chegar a esse ponto, o silêncio em si mesmo é uma coisa extremamente útil, pois na maioria das pessoas que têm um mental um pouco desenvolvido e ativo, seu mental nunca descansa; durante o dia sua atividade é submetida a um certo controle, mas às noite, durante o sono do corpo, o controle do estado de vigília estando quase completamente abolido, o mental se entrega a atividades às vezes excessivas e freqüentemente incoerentes. Isto produz uma grande tensão que termina em fadiga e na diminuição das faculdades intelectuais.
O fato é que, como todas as outras partes do ser humano, o mental precisa de repouso, e este repouso ele não terá a menos que saibamos como dá-lo. A arte de repousar seu mental é uma coisa a ser adquirida. Mudar de atividade mental é certamente um meio de repousar, mas o maior repouso possível é o silêncio. E no que se refere às faculdades mentais, alguns minutos passados na calma do silêncio são um repouso mais eficaz do que horas de sono.

Quando se tiver aprendido a silenciar o mental à vontade e a concentrá-lo em um silêncio receptivo, então não haverá mais problema que não se possa resolver, nenhuma dificuldade mental para a qual não se possa encontrar uma solução. Na agitação, o pensamento é confuso e impotente; em uma tranqüilidade atenta, a luz pode manifestar-se, abrindo horizontes novos às capacidades humanas.

A EDUCAÇÃO PSÍQUICA E A EDUCAÇÃO ESPIRITUAL

Até agora lidamos apenas com a educação que pode ser dada a toda criança nascida sobre a terra, e que se ocupa somente com faculdades puramente humanas. Mas não é inevitável parar aí. Todo ser humano traz escondido dentro de si a possibilidade de uma consciência superior, que ultrapassa os esquemas de sua vida atual e o faz participar de uma vida mais alta e mais vasta. Realmente, em todo ser altamente evoluído é esta consciência que governa sua vida e organiza ao mesmo tempo as circunstâncias de sua existência e sua reação individual a estas circunstâncias. O que a consciência mental do homem não sabe e não pode, esta consciência sabe e faz.

Ela é como uma luz que brilha no centro do ser e irradia através das espessas camadas da consciência exterior. Alguns têm uma vaga presciência de sua presença; muitas crianças estão submetidas à sua influência, que às vezes se faz sentir bem distintamente em suas ações espontâneas e mesmo em suas palavras. Infelizmente como os pais, na maioria das vezes, não sabem o que isto é e não entendem o que está acontecendo com seu filho, sua reação em relação a estes fenômenos não é boa, e toda a sua educação consiste era tornar a criança tão inconsciente quanto possível neste domínio, para concentrar toda a sua atenção nas coisas exteriores, dando-lhe assim o hábito de considerá-las como as únicas importantes. É verdade que esta concentração nas coisas exteriores é muito útil, contanto que seja feita de maneira certa. As três educações - física, vital e mental - ocupam-se disto, e se poderia defini-las como o meio de construir a personalidade, de fazer surgir o indivíduo da massa amorfa e subconsciente, para fazer dele uma entidade bem definida e consciente de si.

Com a educação psíquica, abordamos o problema do verdadeiro motivo da existência, da razão de ser da vida sobre a terra, da descoberta à qual esta vida deve conduzir, e do resultado desta descoberta : a consagração do indivíduo a seu princípio eterno. Muito geralmente se associa esta descoberta a um sentimento místico e a uma vida religiosa, porque são sobretudo as religiões que se ocupam com este aspecto da vida. Mas isto não é necessariamente assim; e se substituirmos a noção mística de Deus pela noção mais filosófica de Verdade, a descoberta permanecerá essencialmente a mesma, só que o caminho que conduz a ela pode ser tomado até pelo positivista mais intransigente. Pois para se preparar para uma vida psíquica as noções e idéias mentais têm somente uma importância muito secundária. A coisa importante é a experiência vivida; ela carrega sua realidade e sua força era si mesma, independente de qualquer teoria que possa precedê-la, acompanhá-la ou segui-la.

Pois na maioria das vezes as teorias são apenas explicações que se dá a si mesmo para ter mais ou menos a ilusão do conhecimento. Segundo o meio no qual nasceu e a educação que recebeu, o homem reveste de nomes diferentes o ideal ou o absoluto que ele se esforça para atingir. A experiência, se for sincera, é essencialmente a mesma ; são apenas as palavras e as frases nas quais ela é formulada que diferem, segundo a convicção e a educação mental daquele que tem a experiência. Toda formulação é então somente uma aproximação que deve progredir e crescer em precisão à medida que a experiência se torna mais e mais precisa e coordenada. No entanto, para traçar as linhas gerais da educação psíquica é preciso dar uma idéia, por mais relativa que seja, do que se quer dizer com ser psíquico. Poderíamos dizer, por exemplo, que a criação de um ser individual provem da projeção no espaço e no tempo de um dos inumeráveis possíveis latentes na origem suprema de toda manifestação que, por intermédio da consciência única e universal, concretiza-se na lei ou na verdade de um indivíduo e assim se torna, por um desenvolvimento progressivo, sua alma ou ser psíquico.

Eu insisto no fato de que o que é dito aqui brevemente não tem a pretensão de ser uma exposição completa da realidade e não esgota o assunto - longe disso. É simplesmente uma explicação muito sucinta, dada como um objetivo prático para que sirva de base à educação com que queremos ocupar-nos.

É por intermédio desta presença psíquica que a verdade de um ser individual entra em contato com ele e com as circunstâncias de sua existência. Na maioria dos casos esta presença age por trás de um véu, por assim dizer, irreconhecida e ignorada; mas para alguns ela é perceptível e sua ação reconhecível; em alguns mesmo, um número muito pequeno, a presença se torna tangível e sua ação inteiramente efetiva. Estes avançam na vida com uma segurança e uma certeza toda sua, eles são os mestres de seu destino. É com o objetivo de obter este domínio e de tornar-se consciente da presença psíquica, que a educação psíquica deve ser praticada. Mas para isto há necessidade de um fator especial, a vontade pessoal. Porque até agora a descoberta do ser psíquico e a identificação com ele não estavam entre os assuntos reconhecidos de educação e, se bem que se possa encontrar, em obras especiais, indicações úteis para a prática, e que, em casos excepcionais, se possa ter a boa sorte de encontrar alguém que é capaz de mostrar o caminho e ajudar a percorrê-lo, na maioria das vezes a tentativa é deixada à iniciativa pessoal; a descoberta é um assunto pessoal, e uma grande determinação, uma forte vontade e uma persistência incansável são indispensáveis para atingir o objetivo. Cada um deve, por assim dizer, traçar seu próprio caminho através de suas próprias dificuldades. Até certo ponto o objetivo é conhecido, pois a maioria daqueles que o atingiram o descreveu mais ou menos claramente. Mas o maior valor da descoberta vem de sua espontaneidade, de sua ingenuidade, e ele escapa às leis mentais comuns. E é por isso que, na maioria das vezes, alguém que quer assumir esta aventura procura primeiro uma pessoa que a tenha empreendido com sucesso e que seja capaz de sustenta-lo e de esclarecê-lo no caminho. No entanto existem viajantes solitários, e para eles algumas indicações gerais podem ser úteis.

O ponto de partida é procurar em si mesmo o que é independente do corpo e das circunstâncias da vida, o que não provem da formação mental que se recebeu, da língua que se fala, dos hábitos e costumes do meio no qual se vive, do país em que se nasceu ou da época a que se pertence. É preciso encontrar nas profundezas de seu ser aquilo que contém em si um sentido de universalidade, de expansão sem limites, de duração sem interrupção. Então você se descentraliza, se espalha, se alarga, começa a viver em cada coisa e em todos os seres; as barreiras que separam os indivíduos uns dos outros caem; você pensa nos pensamentos deles, vibra nas sensações deles, sente nos sentimentos deles, vive na vida do todo. O que parecia inerte subitamente se anima, as pedras vibram, as plantas sentem, querem e sofrem, os animais falam uma linguagem mais ou menos muda mas clara e expressiva, tudo se anima, prenhe de uma consciência maravilhosa que não tem mais tempo nem limites. E isto é apenas um aspecto da realização psíquica. Existem muitos outros. Todos contribuem para fazer você sair das barreiras de seu egoísmo e dos muros de sua personalidade exterior, da impotência de suas reações e da incapacidade de sua vontade.

Mas como eu já disse, para chegar lá o caminho é longo e difícil, semeado de armadilhas e de problemas a resolver, que exigem uma determinação a toda prova. É como a viagem do explorador através da floresta virgem, em busca de uma terra desconhecida, de uma grande descoberta. O ser psíquico é também uma grande descoberta, exigindo, para ser feita, ao menos tanta ousadia e persistência quanto a descoberta de novos continentes. Para aquele que está decidido a realizá-la, um certo número de conselhos simples poderá ser útil. Aqui estão alguns :
O primeiro ponto e talvez o mais importante, é que o mental é incapaz de julgar coisas espirituais. Todos os que escreveram sobre o assunto disseram isto; mas muito pouco numerosos são aqueles que o puseram em prática; e no entanto, para avançar no caminho, é absolutamente indispensável abster-se de toda opinião e reação mentais.
Renuncie a toda procura pessoal de conforto, de satisfação, de prazer ou de felicidade. Seja somente um fogo ardendo pelo progresso, torne tudo o que vier para você como uma ajuda para progredir e realize imediatamente o progresso exigido.
Tente ter prazer em tudo o que você faz, mas nunca faça coisa alguma por causa do prazer.

Nunca fique excitado, nervoso ou agitado. Permaneça perfeitamente calmo diante de todas as circunstâncias. E no entanto esteja sempre desperto para descobrir o progresso que você ainda tem que fazer e para fazê-lo sem perder tempo.
Nunca tome os acontecimentos físicos em sua aparência exterior. Eles são sempre tentativas desajeitadas de expressar alguma outra coisa, que é a coisa verdadeira e escapa à nossa compreendo superficial.

Nunca se queixe do comportamento de alguém, a menos que você tenha o poder de mudar em sua natureza o que o faz agir assim; e se você tem este poder, faça a mudança em vez de se queixar.

Seja o que for que você faça, não esqueça nunca o objetivo a que você se propôs. Na realização desta grande descoberta não há coisas pequenas e coisas grandes; todas são igualmente importantes e podem contribuir para o seu sucesso ou então atrasa-lo. Assim, antes de comer, concentre-se alguns segundos na aspiração de que este alimento que você vai absorver traga a seu corpo a substância necessária para servir de base sólida a seu esforço em direção à grande descoberta, e que dê a ele a energia da persistência e da perseverança no esforço.

Antes de dormir, concentre-se alguns segundos na aspiração de que o sono restaure seus nervos cansados, traga a seu cérebro a calma e a tranqüilidade, para que ao se levantar você possa retomar com ardor renovado sua jornada no caminho da grande descoberta.

Antes de agir, concentre-se na vontade de que sua ação ajude ou em todo caso não entrave em nada sua caminhada para frente em direção à grande descoberta.
Quando você falar, antes que as palavras saiam de sua boca, concentre-se um pouco, o suficiente para controlar suas palavras e só deixar passar aquelas que forem absolutamente necessárias e somente aquelas que não possam prejudicar em nada seu progresso no caminho da grande descoberta.

Em resumo, nunca esqueça a razão e o objetivo de sua vida. Deixe a vontade da grande descoberta planar constantemente acima de você, do que você faz e do que você é, como um imenso pássaro de luz dominando todos os movimentos de seu ser.
Diante da persistência incansável de seu esforço, uma porta interior se abrirá repentinamente e você surgirá dentro de um esplendor deslumbrante que lhe trará a certeza da imortalidade, a experiência concreta de que você viveu sempre e sempre viverá, que somente as formas externas perecera, e que estas formas, em relação ao que você realmente é, são como roupas que se rejeita quando estão gastas. Então você se erguerá, livre de todas as amarras, e em vez de avançar penosamente sob o peso das circunstâncias que a natureza impunha a você, e que você devia suportar e carregar se não quisesse ser esmagado por elas, você pode caminhar ereto e firme, consciente de seu destino, mestre de sua vida.

E no entanto este desprender-se de toda escravidão à carne, esta libertação de todo apego pessoal não é o cumprimento supremo. Há outros passos a fazer antes de atingir o cume; e mesmo estes passos poderão e deverão ser seguidos de outros que abrirão as portas do futuro. São estes próximos passos que serão o assunto do que eu chamo a educação espiritual.

Mas antes de abordarmos esta nova etapa e de lidarmos com a questão em detalhe, uma explicação torna-se necessária. Por que se faz uma distinção entre a educação psíquica, da qual acabamos de falar, e a educação espiritual, da qual vamos nos ocupar agora? Porque as duas em geral são reunidas indistintamente sob o termo global de disciplina yóguica, ainda que os objetivos para os quais elas tendem sejam muito diferentes, um sendo uma realização superior sobre a terra, o outro uma fuga para fora de toda manifestação terrestre e mesmo para fora de todo universo,um retorno ao que não é manifestado.

Pode-se então dizer que a vida psíquica é a vida imortal, o tempo sem fim, o espaço sem limite, a mudança perpetuamente progressiva, a continuidade ininterrupta no universo era formas. A consciência espiritual, por outro lado, é viver o infinito e a eternidade, é ser projetado para fora de toda criação, para fora do tempo e do espaço. Para tornar-se consciente de seu ser psíquico e viver uma vida psíquica, é preciso abolir em si todo egoísmo; mas para viver verdadeiramente a vida espiritual, não se deve mais ter ego.

Também aqui, na educação espiritual, o objetivo a que alguém se propõe será, na formulação mental, revestido de nomes diversos, segundo o meio era que se foi formado, o caminho que se percorreu e as afinidades de seu temperamento. Aqueles que têm uma tendência religiosa o chamarão Deus, e seu esforço espiritual consistirá em querer identificar-se com o Deus transcendente além de toda forma, em oposto ao Deus imanente que habita era cada forma. Outros o chamarão o Absoluto, ou a origem suprema, outros o Nirvana, outros a única Realidade, considerando o mundo uma ilusão irreal; outros a única Verdade, considerando toda manifestação como mentira. Em cada uma dessas expressões existe um elemento correto, mas todas são incompletas, exprimindo somente um aspecto daquilo que é. No entanto, também aí a formulação mental não tem grande importância e, uma vez atravessadas as etapas intermediárias, a experiência é idêntica. Em todos os casos o ponto de partida mais eficaz, o método mais rápido, é a total entrega de si. Aliás, não existe alegria mais perfeita do que a de uma total entrega de si àquilo que está no ápice de sua concepção: para alguns isto será a noção de Deus, para outros a da Perfeição. Se esta entrega for feita com persistência e ardor, virá um momento em que se irá além do conceito para chegar a uma experiência que escapa a toda descrição, mas que é quase sempre idêntica em seus efeitos. A medida também que a entrega de si tornar-se mais perfeita e mais integral, ela trará consigo a aspiração a uma identificação, a uma total fusão com Isto a que se fez a entrega, e pouco a pouco esta aspiração irá prevalecer sobre todas as diferenças e todas as resistências, especialmente se a aspiração vier acrescida de um Amor intenso e espontâneo, pois então nada mais poderá opor-se a seu impulso vitorioso.

Há uma diferença essencial entre esta identificação e aquela com o ser psíquico. Esta última pode chegar a ser cada vez mais durável e em certos casos ela se torna permanente e nunca mais deixa aquele que a realizou, sejam quais forem suas atividades exteriores. Em outras palavras, a identificação não é mais realizada somente em meditação e concentração mas seus efeitos se fazem sentir em todos os momentos da existência, tanto durante o sono quanto no estado de vigília.
Ao contrário, a liberação de toda forma e a identificação com o que está além da forma não pode durar de uma maneira absoluta, pois ela levaria automaticamente à dissolução da forma material. Certas tradições dizem que esta dissolução acontece inevitavelmente dentro dos vinte dias que se seguem à total identificação. No entanto, isto não é necessariamente assim; e mesmo quando a experiência é apenas momentânea ela produz na consciência resultados que nunca são apagados e que têm repercussões em todos os estados interiores e exteriores do ser. Além disso, uma vez obtida a identificação, ela pode ser renovada à vontade, desde quem saiba como se colocar em condições idênticas. Esta imersão no sem-forma é a suprema libertação procurada por aqueles que querem escapar de uma existência que não tem mais atração para eles. Não é nada surpreendente que eles não estejam satisfeitos com o mundo na sua forma atual. Mas uma libertação que deixa o mundo tal como é, e que não afeta em nada as condições de vida de que os outros sofrem, não pode contentar aqueles que se recusam a desfrutar de um benefício de que eles sejam os únicos detentores, ou quase, e que sonham com um mundo mais digno dos esplendores que se escondem atrás de sua aparente desordem e de suas misérias generalizadas. Eles sonham em fazer os outros se aproveitarem das maravilhas que eles descobriram em sua exploração interior. E o meio de fazê-lo está a seu alcance, agora que eles atingiram o cume da ascensão.

De além das fronteiras da forma uma força nova pode ser evocada, um poder de consciência que ainda não se exprimiu e que, por sua aparição, poderá mudar o curso das coisas e fazer nascer um mundo novo. Pois a verdadeira solução para o problema do sofrimento, da ignorância e da morte não é uma fuga individual para fora das misérias terrestres, pela aniquilação no não manifestado, nem uma problemática fuga coletiva para fora do sofrimento universal, por um retorno integral e definitivo da criação para seu criador, curando assim o universo por sua abolição, mas uma transformação, uma transfiguração total da matéria, levada adiante pela continuação lógica da marcha ascendente da Natureza em seu progresso era direção à perfeição, a criação de um tipo novo que será para o homem o que o homem é para o animal, e que manifestará sobre a terra uma força nova, uma consciência nova, um poder novo. Então começará assim uma educação nova, que pode ser chamada a educação supramental e que, por sua ação todo-poderosa, agirá não somente sobre a consciência dos seres individuais, mas sobre a substância de que eles são feitos e sobre o meio no qual eles vivem.

Ao contrário das educações de que falamos antes, que progridem de baixo para cima, através de um movimento ascendente das diversas partes do ser, a educação supramental progredirá de cima para baixo, numa influência se propagando de estado de ser para estado de ser, até atingir finalmente o físico. A transformação deste último só acontecerá de modo visível quando os estados de ser anteriores já tiverem sido consideravelmente transformados. É portanto completamente sem sentido querer tomar consciência da presença supramental pelas aparências físicas. Pois estas serão as últimas a serem mudadas, e a força supramental pode estar trabalhando era um indivíduo muito tempo antes que alguma coisa se torne perceptível era sua vida corporal.

Para resumir, podo-se dizer que a educação supramental terá como efeito não mais uma formação progressiva da natureza humana, e um crescente desenvolvimento de suas faculdades latentes, mas uma transformação da própria natureza, uma transfiguração do ser em sua totalidade, uma ascensão nova da espécie, além e acima do homem era direção ao super-homem, finalizando com o aparecimento de uma raça divina sobre a terra.

NOTA BIOGRÁFICA

Juntando-se aos discípulos que estavam em torno de Sri Aurobindo, dedicou-se, nos seis primeiros anos, à intensificação e aperfeiçoamento de sua disciplina espiritual. Quando, em 1926, Sri Aurobindo se retirou da convivência direta com os discípulos ele entregou à Mãe a orientação e também a direção e organização concretas da comunidade que estava começando a se formar. Este foi o início do Sri Aurobindo Ashram, que teve na Mãe a presença central, a força efetuadora a partir da qual tudo cresceu e se ordenou.

Em inteira concordância com Sri Aurobindo, que via na união de interior e exterior a condição necessária para o indivíduo chegar ao desenvolvimento integral de si, ela introduziu, na vida da comunidade, como meios indispensáveis de expressão e realização espirituais, o trabalho, a educação física as artes, e outras atividades. Colocou, também, a busca e a pesquisa de uma nova educação no centro da vida do Ashram, fundando em 1942 a escola que passa a ser, em 1952, o centro Internacional de Educação Sri Aurobindo. Este centro realiza até hoje, contando com professores e alunos de várias nacionalidades uma experiência em crescimento integral, denominada livre progresso, aplicando os princípios educacionais desenvolvidos por Sri Aurobindo e a Mãe.

O Sri Aurobindo Ashram – que hoje conta com cerca de 2.000 pessoas não só da Ásia, mas de todos os continentes, principalmente da Europa e América do Norte – abrange, além do campo da educação, muitos outros setores e serviços, tais como os de construção, alimentação, transporte, arte, tecelagem, secretaria, correio, fabricação manual de papel, indústria de algodão, etc. Em 1968, com o incentivo e a determinação da Mãe, foi iniciada a construção de Auroville, cidade-modelo internacional, reconhecida e apoiada pelo Unesco, destinada a realizar vivencialmente o ideal da Unidade Humana.

Sem se afastar da consciência desse trabalho de elaboração e aperfeiçoamento do todo, a Mãe vinha se dedicando, nos últimos anos, à realização de experiências espirituais pioneiras, referentes à transformação do corpo físico. Encontrando-se cada vez mais em condições físicas delicadas, a Mãe faleceu em 17 de novembro de 1973.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1, sri aurobindo, in "auroville - a model of human unity", sri aurobindo society, pondicherry, 1973
E DAS ILUSTRAÇÕES
2, franz kafka, in "filosofia da dança", apostila organizada por rolf gelevvski, escola de música e artes únicas da ufba., salvador, 1969, p. 7
3, sri aurobindo, "essays on the gita", sri aurobindo birth centenary library, vol. 13, sri aurobindo ashram, pondicherry, 1970, p. 499
4, idem
5, ibid, pp. 499-500
6, a mãe, "entretiens 1950-51", sri aurobindo ashram, pondicherry, 1967, p. 413
7, a mãe, "conversations", sri aurobindo ashram, pondicherry, 1971, p. 2-3

CAPA – foto de gilda seráphico, são paulo, 1977
A MÃE - foto do sri aurobindo ashram, pondicherry




NOTA BIBLIOGRÁFICA
EDUCAÇÃO - UM GUIA PARA O CONHECIMENTO E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DE NOSSO SER é nossa tradução da pequena obra da Mãe "Éducation", que reúne uma série de seis artigos originalmente publicados no "Bulletin of Physical Education" do Sri Aurobindo Ashram, entre 1950 e 1952, simultaneamente em francês e inglês. Houve duas edições em forma de livro, feitas pelo Sri Aurobindo Ashram, em francês: a primeira, em 1952, foi motivada pela criação, nesse mesmo ano, do Centro Internacional de Educação Sri Aurobindo, que tem nesses escritos da Mãe o guia central para sua experiência educacional ; a segunda foi feita em 1972.
EDUCAÇÃO foi traduzido e publicado pela primeira vez, em série, na revista "Ananda", da Casa Sri Aurobindo, de março a julho de 1972. A primeira edição reunida, feita pela Casa, deu-se em 1973, quando apareceu como a primeira parte do livro "Sobre Educação e o Valor da Arte na Educação". Nossa atual edição apresenta exclusivamente o texto original de EDUCAÇÃO, além da introdução para o livro mencionado e uma nota biográfica sobre a Mãe. A tradução, revista, baseia-se na edição de 1972, do Sri Aurobindo Ashram.